Você já falhou hoje?

E ontem?

Mês passado, talvez?

O Desamparo aprendido, ou Learned Helplessness, em inglês, é um fenômeno conhecido e estudado pela psicologia.

Em geral, trata-se de uma condição humana na qual, após sucessivas falhas, somos levados a evitar novos erros ou não fazer esforços para sair de uma situação negativa, deixando de tentar algo que poderia ser bem-sucedido no futuro.

E por que isso acontece?

Porque, ao enfrentarmos determinadas situações que nos causaram dor, vergonha, humilhação ou algum tipo de emoção negativa, desenvolvemos um tipo de bloqueio mental.

Achamos que não há escapatória e que tudo vai continuar do mesmo jeito, independentemente do que fizermos.

Ou seja, sob a ótica da teoria do Desamparo aprendido, sentimos que não podemos controlar os resultados de determinada situação, então não fazemos nada para mudá-la, mesmo tendo todas as ferramentas e condições necessárias para isso.

Neste contexto, a falha ou a decisão de não tentar mais não estão ligadas à capacidade do indivíduo, mas sim às crenças cultivadas.

Veja se você já sofreu com pensamentos deste tipo:

  • “Isso nunca vai melhorar.”
  • “Nada do que eu faço dá certo.”
  • “Já tentei sair disso várias vezes, e eu sempre falho.”
  • “Não tem jeito, isso não é para mim.”

A boa notícia é que é possível, sim, mudar nosso sistema de crenças.

Agora, vamos ver o Desamparo aprendido na prática e entender quais são as suas consequências?

Desamparo aprendido na prática

Há alguns anos, uma professora fez um experimento simples em sala de aula. Esse experimento demonstrou que em pouquíssimo tempo (seis minutos, em média) o Desamparo aprendido poderia vitimar a mente de jovens alunos.

Você pode visualizar o vídeo abaixo, se quiser:

A professora propôs algo bem simples: os alunos precisavam desembaralhar três conjuntos de letras para que formassem palavras.

A sala foi dividida em dois grupos, que chamaremos de lado A e lado B. Cada lado recebeu diferentes conjuntos de letras para serem desembaralhadas, sendo apenas o último conjunto igual para os dois grupos.

O lado A recebeu três conjuntos que poderiam ser resolvidos. O lado B também recebeu três conjuntos, mas os dois primeiros não tinham resolução. Lembrando que o terceiro conjunto era igual para os dois grupos. Nenhum dos alunos sabia disso.

Então, resumidamente:

-Lado A: todos os conjuntos tinham resolução;

-Lado B: só o último conjunto tinha resolução, e os alunos não sabiam.

O que aconteceu foi que, ao ver o lado A resolvendo facilmente os dois primeiros conjuntos, o lado B adquiriu o Desamparo aprendido. Os alunos desse segundo grupo se sentiram incapazes de resolver o que os outros estavam resolvendo de forma tão fácil.

Assim, quando chegou a hora de resolver o terceiro e último conjunto, o lado A o fez com facilidade, enquanto o lado B teve dificuldades, já que os alunos não haviam conseguido resolver os dois primeiros — que, relembrando, não tinham como ser resolvidos.

Testes com animais

Experimentos com animais tiveram os mesmos resultados.

Um exemplo conhecido é o do elefante: quando ainda filhote, seus adestradores o amarram com uma corda a um local fixo, do qual não há escapatória.

O pequeno animal tenta se desvencilhar da corda e sair daquela situação até atingir a exaustão. Depois de inúmeras tentativas frustradas, o filhote de elefante adquire a crença de que, não importa o que fizer, não há como escapar.

Ao crescer, isso fica enraizado no subconsciente do animal. Por isso, já quando adulto, seus adestradores podem amarrá-lo com uma corda (mesmo que seja fraca!) em qualquer local, pois ele não vai sequer tentar fugir.

Ele tem força suficiente para escapar, basta um puxão. No entanto, suas tentativas anteriores o levaram a crer, mesmo após anos, que não há solução para sua situação.

Consequências do desamparo aprendido

Maus tratos, abusos, bullying, assédios e qualquer tipo de humilhação podem desencadear sentimentos e crenças com características muito fortes, tanto no âmbito pessoal quanto profissional.

Após falharem duas vezes com algo simples, alguns estudantes do lado B nem se esforçaram para resolver o terceiro conjunto de letras, já acreditando que iriam falhar novamente. Alguns jovens afirmaram que se sentiram estúpidos e pressionados.

Se em tão pouco tempo houve a desistência em um contexto tão simples, o que poderia acontecer com nossas mentes após sucessivas falhas em nosso dia a dia?

As consequências podem reverberar negativamente, durante anos, em diferentes áreas de nossas vidas.

Um exemplo é um rapaz que, após diversas tentativas sem sucesso de se aproximar de mulheres, passa a acreditar que há algum problema com ele e que não vale mais a pena tentar, tornando-se recluso e sem confiança em si próprio.

Outro exemplo é um caso em que, após abrir diferentes empresas sem sucesso, uma empreendedora desiste e se conforma com um emprego regular, o qual não a satisfaz.

As consequências variam de pessoa para pessoa e podem ter efeitos devastadores na vida de alguém. Veja algumas:

  • Insegurança;
  • Sentimento de impotência;
  • Medo do novo;
  • Emoções negativas duradouras, como achar que não merece coisas boas ou que é inferior em comparação a outras pessoas;
  • Medo de cometer falhas, que são vistas somente como algo negativo;
  • Aversão a críticas.

Exemplos como os citados acima são mais comuns do que imaginamos.

Então, o que fazer?

Começar a mudar a história que contamos para nós mesmos pode ser o primeiro passo.

A falha como degrau para o sucesso

Como você lida com falhas?

A falha muitas vezes é posta como derrota: sua denotação é a de algo ruim, algo que se deve evitar a todo custo.

Para os bem-sucedidos, no entanto, ela possui outro papel: o de ser um dos degraus para o sucesso.

Tentativas frustradas podem ser vistas como um meio de aproximação do sucesso, já que estão ligadas ao acúmulo de experiências. Elas nos dão a oportunidade de corrigir o que não está dando certo e/ou tentar outro caminho.

Aposto que você já ouviu falar sobre Thomas Edison, não ouviu?

O criador da lâmpada incandescente falhou incontáveis vezes antes de dar essa contribuição para a humanidade, assim como a maioria das pessoas antes de atingirem seus objetivos. É dele esta frase que resume bem o que estamos falando aqui:

“Eu não falhei 10 mil vezes, apenas encontrei 10 mil maneiras que não funcionam.”

Otimismo aprendido

A descoberta do Desamparo aprendido é, na verdade, ótima!

Essa teoria nos mostra que muitas coisas dependem apenas da nossa percepção, da história que contamos para nós mesmos, e é aí que entra em cena o Otimismo aprendido, ou Learned Optimism, em inglês.

Refletindo sobre esse condicionamento que a mente nos impõe, ficam os questionamentos:

  • Quantas de nossas derrotas passadas se transformaram em Desamparo aprendido? 
  • Quais tipos de crenças nos condicionam diariamente e nos impedem de seguir adiante? 
  • O que já deixamos de fazer por acharmos que não vamos conseguir?
  • Quais medos condicionam nossas vidas e nos colocam em posições inferiores àquelas que poderíamos estar, de fato, ocupando no momento?

Nossa mente é, a princípio, um campo neutro. Ela absorve aquilo que deixamos, aquilo que acreditamos, aquilo que nos aconteceu (e que podemos ressignificar).

No exemplo acima, os participantes do lado B acreditaram erroneamente que não conseguiriam resolver o terceiro conjunto de letras. Afinal, já haviam falhado nos dois primeiros, não é?

Se tivessem abandonado essa falsa crença e acreditado que era só mais um conjunto a ser resolvido, teriam tentado resolver o problema com confiança e, possivelmente, teriam se saído tão bem quanto o lado A.

Tentativas frustradas são parte natural da vida. É importante acreditarmos que elas abrem espaço para experiências e aprendizados necessários para o nosso desenvolvimento.

Também é importante criarmos métodos próprios que nos livrem dos sentimentos de culpa, rejeição, dor, impotência ou inferioridade que determinadas situações nos causaram. Algumas opções são:

  • autoanálise;
  • questionamento de crenças;
  • meditação;
  • afirmações positivas;
  • busca de ajuda profissional etc.

A ciência do positivismo

Há uma ciência por trás do positivismo, com inúmeros autores e livros tentando difundir a ideia de que nossos pensamentos/emoções são vibrações energéticas que atraem elementos semelhantes, ou de que é possível substituir crenças limitantes por outras mais saudáveis.

O psicólogo Martin Seligman, criador da Psicologia positiva e autor dos livros Otimismo Aprendido e Felicidade Autêntica, descreveu o processo de identificar pensamentos ou sistemas de crenças ruins, questioná-los e buscar evidências dessas “verdades” para que possamos desenvolver novos sistemas de crenças e pensamentos mais positivos.

Como vimos, menos de seis minutos podem ser o suficiente para carregarmos pelo resto de nossas vidas crenças inverídicas, irreais. E quantas dessas inverdades carregamos em nossas bagagens pessoais…

Aprender a cultivar a resiliência e dar um novo sentido àquilo que nos acontece é fundamental para uma vida de qualidade com pensamentos que não nos tornem ansiosos por motivos que são, muitas vezes, insignificantes.

Já percebeu que duas pessoas podem reagir de maneiras completamente diferentes frente à mesma situação? É o famoso exemplo do copo meio cheio — ou meio vazio? Bom… você decide.

Alimentar crenças positivas tem a ver com um olhar mais real e mais questionador.

Talvez seja como dizem: “Mude sua forma de lidar com a vida e a vida mudará a forma de lidar com você”.

E você, já falhou hoje? Separar uns minutos do seu dia para tentar identificar o Desamparo aprendido em alguma área da sua vida pode contribuir com o seu bem-estar. Além disso, refletir sobre o assunto pode ajudar você a entender que o valor da excelência não está na perfeição, e sim na tentativa de dar o seu melhor para se aprimorar a partir disso.

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